A ética cristã é o sistema de valores morais
associado ao Cristianismo histórico e que retira dele a sustentação teológica e
filosófica de seus preceitos.
Como
as demais éticas, a ética cristã opera a partir de diversos pressupostos e
conceitos que acredita estão revelados nas Escrituras Sagradas pelo único Deus
verdadeiro. São estes:
1.
A existência de um único Deus verdadeiro, criador dos céus e da terra. A ética
cristã parte do conceito de que o Deus que se revela nas Escrituras Sagradas é
o único Deus verdadeiro e que, sendo o criador do mundo e da humanidade, deve
ser reconhecido e crido como tal e a sua vontade respeitada e obedecida.
2.
A humanidade está num estado decaído, diferente daquele em que foi criada. A
ética cristã leva em conta, na sistematização e sintetização dos deveres morais
e práticos das pessoas, que as mesmas são incapazes por si próprias de
reconhecer a vontade de Deus e muito menos de obedecê-la. Isso se deve ao fato
de que a humanidade vive hoje em estado de afastamento de Deus, provocado
inicialmente pela desobediência do primeiro casal.
A
ética cristã não tem ilusões utópicas acerca da "bondade inerente" de
cada pessoa ou da intuição moral positiva de cada uma para decidir por si
própria o que é certo e o que é errado.
Cegada
pelo pecado, a humanidade caminha sem rumo moral, cada um fazendo o que bem
parece aos seus olhos. As normas propostas pela ética cristã pressupõem a
regeneração espiritual do homem e a assistência do Espírito Santo, para que o
mesmo venha a conduzir-se eticamente diante do Criador.
3.
O homem não é moralmente neutro, mas inclinado a tomar decisões contrárias a
Deus, ao próximo. Esse pressuposto é uma implicação inevitável do anterior. As
pessoas, no estado natural em que se encontram (em contraste ao estado de
regeneração) são movidas intuitivamente, acima de tudo, pela cobiça e pelo
egoísmo, seguindo muito naturalmente (e inconscientemente) sistemas de valores
descritos acima como humanísticos ou naturalísticos.
Por
si sós, as pessoas são incapazes de seguir até mesmo os padrões que escolhem
para si, violando diariamente os próprios princípios de conduta que consideram
corretos.
4.
Deus revelou-se à humanidade. Essa pressuposição é fundamental para a ética
cristã, pois é dessa revelação que ela tira seus conceitos acerca do mundo, da
humanidade e especialmente do que é certo e do que é errado. A ética cristã
reconhece que Deus se revela como Criador através da sua imagem em nós.
Cada
pessoa traz, como criatura de Deus, resquícios dessa imagem, agora deformada
pelo egoísmo e desejos de autonomia e independência de Deus.
A
consciência das pessoas, embora frequentemente ignorada e suprimida, reflete
por vezes lampejos dos valores divinos. Deus também se revela através das
coisas criadas.
O
mundo que nos cerca é um testemunho vivo da divindade, poder e sabedoria de
Deus, muito mais do que o resultado de milhões de anos de evolução cega.
Entretanto
é através de sua revelação especial nas Escrituras que Deus nos faz saber
acerca de si próprio, de nós mesmos (pois é nosso Criador), do mundo que nos
cerca, dos seus planos a nosso respeito e da maneira como deveríamos nos portar
no mundo que criou.
Assim,
muito embora a ética cristã se utilize do bom senso comum às pessoas, depende
primariamente das Escrituras na elaboração dos padrões morais e espirituais que
devem reger nossa conduta neste mundo.
Ela
considera que a Bíblia traz todo o conhecimento de que precisamos para servir a
Deus de forma agradável e para vivermos alegres e satisfeitos no mundo
presente. Mesmo não sendo uma revelação exaustiva de Deus e do reino celestial,
a Escritura, entretanto, é suficiente naquilo que nos informa a esse respeito.
Evidentemente
não encontraremos nas Escrituras indicações diretas sobre problemas tipicamente
modernos como a eutanásia, a AIDS, clonagem de seres humanos ou questões relacionadas
com a bioética. Entretanto, ali encontraremos os princípios teóricos que regem
diferentes áreas da vida humana.
É
na interação com esses princípios e com os problemas de cada geração, que a
ética cristã atualiza-se e contextualiza-se, sem jamais abandonar os valores
permanentes e transcendentes revelados nas Escrituras.
É
precisamente por basear-se na revelação que o Criador nos deu que a ética
cristã estende-se a todas as dimensões da realidade. Ela pronuncia-se sobre
questões individuais, religiosas, sociais, políticas, ecológicas e econômicas.
Desde
que Deus exerce sua autoridade sobre todas as dimensões da existência humana,
suas demandas nos alcançam onde nos acharmos – inclusive e principalmente no
ambiente de trabalho, onde exercemos o mandato divino de explorarmos o mundo
criado e ganharmos o nosso pão.
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